"Açoriano Oriental"
de 4 de Abril de 2008
por Margarida Neves Pereira
(Jornalista)
Um honroso amigo dos Açores, um amante e critico das Artes, um comunicador, um matemático, um professor universitário, um curador, um conferencista, um galerista, o impulsionador de um movimento, um olhar…. Tudo isto, mas não só. É difícil definir Álvaro Lobato Faria, Director e Coordenador do projecto MAC, (Movimento de Arte Contemporânea), pois nele todas estas funções e manifestações se revelam, acrescidas de uma simplicidade desarmante, quase genial e de um afecto na voz e no olhar que nos obriga a partilhar os objectos da sua paixão - Amante das Artes, amigo dos Artistas, defensor da cultura Portuguesa.
"Divulgar as Artes é uma tarefa de grande relevo, uma missão de cidadania de dimensão universal que valoriza quem a promove, mas também quem com ela priva, esteja onde estiver, neste planeta, que é o nosso mundo".
Desenvolvendo-se num processo dinâmico e apostando sempre em novos e constantes desafios quer em Portugal quer no estrangeiro, nomeadamente na via da lusofonia, o MAC- Movimento de Arte Contemporânea, é um espaço cultural especialmente vocacionado para a divulgação da arte, em que a reflexão da língua portuguesa e a linguagem universal das artes plásticas se interliga e conjuga - é assim que Álvaro Lobato Faria se enquadra. Mas, para o director e coordenador deste Movimento, falar de Arte é também falar dos artistas que com o seu génio criador lhe dão vida permitindo a cada um de nós o contacto com novas experiências e com uma outra realidade que de outra forma não conheceríamos.
Tendo a perfeita consciência da fragilidade do estado da arte em Portugal, mas também da necessidade de incentivar e reconhecer o valor das obras e dos seus criadores, o MAC atribuí anualmente prémios (peças de escultura criadas por escultores de relevo do mesmo Movimento) para premiar os artistas que nos vários níveis e escalões mais se destacaram no MAC durante o ano. Desta forma, incentivam-se a qualidade na produção das obras e reconhece-se o valor dos artistas.
Este Movimento de Arte Contemporânea, dirigido e coordenado por Álvaro Lobato Faria, goza de outro requisito que importa verdadeiramente referir, o MAC abre as suas portas aos novos talentos, não se fechando hermeticamente nos valores seguros e já reconhecidos por outrem. Uma audácia proveniente de quem avalia com legitimidade mas também generosidade, a produção artística. "Não podemos pois deixar de referir os artistas que nos transmitiram a qualidade das suas obras: quer os consagrados, que nos têm acompanhado ao longo destes anos e cujos nomes dispensam apresentações, quer os jovens a quem abrimos as portas e com quem partilhamos inesquecíveis entusiasmos."
A importância do publico também não é ignorada por este amante das artes “ é ele que nos assegura que a arte não é apenas necessária mas profundamente indispensável.
Entrevista
Qual a sua Ligação aos Açores?
Para além do MAC contar com artistas açorianos, como é exemplo a Teresa Mendonça, sou um fã da beleza incomparável destas ilhas. Comprei uma casa em S. Jorge. Passo cá férias com muita frequência. Trago comigo grupos de artistas amigos para comigo partilharem desta calma reparadora.
Existe um ambiente "maquiano"?
Sim. É um ambiente agradável. Com muitos encontros e tertúlias. Somos comunicadores e descontraídos. Não considero o MAC uma Galeria mas sim um espaço cultural, aberto a todos, interactivo, convivial. Claro que nem todos os artistas são pessoas simpáticas, ou gostam de colaborar com o espírito regente, mas a grande maioria adere a esse espírito aberto.
Como nasce a paixão pelas artes plásticas?
A minha área de formação é as matemáticas puras, as quais lecciono. Para as compreendermos temos que ter uma certa sensibilidade também, uma certa paciência. As matemáticas têm uma certa cruz às costas, é um curso muito monótono e quando o tirei, apercebi-me que ou se é um grande craque - um génio - e a formação adquire-se com uma certa facilidade, ou se dá em louco! Para que isso não acontecesse, procurei compensações. Então, com apenas dezasseis anos, passava todos os meus tempos livres em galerias e museus, a contemplar e a "lavar a alma" com arte. Claro que era escorraçado de muitas delas por ser demasiado jovem. Olhavam-me de soslaio… mas ninguém me amedrontava!
Há um elitismo associado às artes e às galerias?
Sim. E isto prejudica muito a arte. São Galerias que não cuidam da vertente pedagógica e que de certa forma matam as artes. Eu "obrigo" turmas da instrução primária a irem à galeria. Os professores de Belas Artes costumavam dar aulas no nosso espaço, onde podiam os alunos interagir com os artistas, fazerem-lhes perguntas.... Chamei ao MAC os escuteiros, etc… Somos uma galeria viva, verdadeiramente um espaço cultural. A arte, para ser reconhecida como tal, precisa de ser vista, sentida e quanto mais cedo melhor, e por quanto maior numero de pessoas, melhor.
O Mac dá muita importância ao seu publico…
Sim. Não podemos esquecer o penhor do público, sempre interessado e interveniente. É ele que diariamente nos afirma que a arte não é apenas necessária mas profundamente indispensável. Com estes inestimáveis contributos (artistas, obras, publico divulgação jornalística) foi possível ao MAC conquistar um lugar de grande destaque no horizonte das artes plásticas, o que nos honra e nos une em laços estreitos aos artistas com quem trabalhamos, ao publico que os admira e apoia com regozijo e a todos os que de forma empenhada seguem o nosso trajecto.
Em Portugal não é costume premiarem-se artistas….
Os prémios foram criados numa noite de reflexão. Deixou-se de escrever sobre cultura em Portugal, o lugar foi praticamente todo tomado pelo desporto. Achei que tal era absolutamente necessário e justo. É um estímulo.
São atribuídos periodicamente?
Atribuímos anualmente em vários escalões.
Os próprios troféus são grandes obras de arte...
Sim. São concebidos por escultores do Movimento - já contamos com três grandes nomes : a escultora Maria Manuela Madureira - que conta com mais de sessenta anos de carreira, o Joalheiro e também escultor - Alberto Gordillo - que é considerado um dos dez maiores joalheiros do mundo - produziu o colar da Coroa da Monarquia Inglesa, fez vários trabalhos para o Franck Sinatra, e do qual temos uma exposição permanente de jóias no MAC, e este ultimo, em 2007, produzido por João Duarte, também um artista notável, Professor Catedrático de Belas Artes, um dos braços direitos deste Movimento.
O núcleo duro do MAC…
São vários que estão comigo quase desde o inicio, ou que demonstraram, assim que chegaram, uma disponibilidade generosa para connosco. A Pintora Luísa Nogueira, Maria João Franco, a açoriana Teresa Mendonça, entre outros, e claro O Mestre Hilário Teixeira Lopes, que é o nosso "bebé". Mas um "bebé" com grande peso - Prémio Mundial em Madrid, em 1969 entre 416 artistas de 32 países, prémio Sousa Cardoso em 1965 que era um dos mais importantes prémios nas Artes Plásticas em Portugal. A ele fazemos-lhe todas as vontades….
Pinta?
Nada! Não sei fazer um traço… fiz um quadro em toda a minha vida com a ajuda. Foi um sucesso… (risos)
Títulos e destaques
O amante do movimento das artes
O elitismo das galerias pode matar o futuro da arte. A pedagogia é essencial
Deixou-se de escrever sobre artes em geral em Portugal o lugar foi praticamente todo tomado pelo desporto. É pena.
A arte, para ser reconhecida como tal, precisa de ser vista, sentida, quanto mais cedo e maior numero de pessoas, melhor
Álvaro Lobato Faria é o director coordenador do MAC - Movimento de Arte Contemporânea. Um movimento que divulga e incentiva as obras de cerca de uma centena e meia de artistas portugueses, no país e no mundo lusófono.
"Divulgar as Artes é uma tarefa de grande relevo, uma missão de cidadania de dimensão universal que valoriza quem a promove, mas também quem com ela priva, esteja onde estiver, neste planeta, que é o nosso mundo".
Desenvolvendo-se num processo dinâmico e apostando sempre em novos e constantes desafios quer em Portugal quer no estrangeiro, nomeadamente na via da lusofonia, o MAC- Movimento de Arte Contemporânea, é um espaço cultural especialmente vocacionado para a divulgação da arte, em que a reflexão da língua portuguesa e a linguagem universal das artes plásticas se interliga e conjuga - é assim que Álvaro Lobato Faria se enquadra. Mas, para o director e coordenador deste Movimento, falar de Arte é também falar dos artistas que com o seu génio criador lhe dão vida permitindo a cada um de nós o contacto com novas experiências e com uma outra realidade que de outra forma não conheceríamos.
Tendo a perfeita consciência da fragilidade do estado da arte em Portugal, mas também da necessidade de incentivar e reconhecer o valor das obras e dos seus criadores, o MAC atribuí anualmente prémios (peças de escultura criadas por escultores de relevo do mesmo Movimento) para premiar os artistas que nos vários níveis e escalões mais se destacaram no MAC durante o ano. Desta forma, incentivam-se a qualidade na produção das obras e reconhece-se o valor dos artistas.
Este Movimento de Arte Contemporânea, dirigido e coordenado por Álvaro Lobato Faria, goza de outro requisito que importa verdadeiramente referir, o MAC abre as suas portas aos novos talentos, não se fechando hermeticamente nos valores seguros e já reconhecidos por outrem. Uma audácia proveniente de quem avalia com legitimidade mas também generosidade, a produção artística. "Não podemos pois deixar de referir os artistas que nos transmitiram a qualidade das suas obras: quer os consagrados, que nos têm acompanhado ao longo destes anos e cujos nomes dispensam apresentações, quer os jovens a quem abrimos as portas e com quem partilhamos inesquecíveis entusiasmos."
A importância do publico também não é ignorada por este amante das artes “ é ele que nos assegura que a arte não é apenas necessária mas profundamente indispensável.
Entrevista
Qual a sua Ligação aos Açores?
Para além do MAC contar com artistas açorianos, como é exemplo a Teresa Mendonça, sou um fã da beleza incomparável destas ilhas. Comprei uma casa em S. Jorge. Passo cá férias com muita frequência. Trago comigo grupos de artistas amigos para comigo partilharem desta calma reparadora.
Existe um ambiente "maquiano"?
Sim. É um ambiente agradável. Com muitos encontros e tertúlias. Somos comunicadores e descontraídos. Não considero o MAC uma Galeria mas sim um espaço cultural, aberto a todos, interactivo, convivial. Claro que nem todos os artistas são pessoas simpáticas, ou gostam de colaborar com o espírito regente, mas a grande maioria adere a esse espírito aberto.
Como nasce a paixão pelas artes plásticas?
A minha área de formação é as matemáticas puras, as quais lecciono. Para as compreendermos temos que ter uma certa sensibilidade também, uma certa paciência. As matemáticas têm uma certa cruz às costas, é um curso muito monótono e quando o tirei, apercebi-me que ou se é um grande craque - um génio - e a formação adquire-se com uma certa facilidade, ou se dá em louco! Para que isso não acontecesse, procurei compensações. Então, com apenas dezasseis anos, passava todos os meus tempos livres em galerias e museus, a contemplar e a "lavar a alma" com arte. Claro que era escorraçado de muitas delas por ser demasiado jovem. Olhavam-me de soslaio… mas ninguém me amedrontava!
Há um elitismo associado às artes e às galerias?
Sim. E isto prejudica muito a arte. São Galerias que não cuidam da vertente pedagógica e que de certa forma matam as artes. Eu "obrigo" turmas da instrução primária a irem à galeria. Os professores de Belas Artes costumavam dar aulas no nosso espaço, onde podiam os alunos interagir com os artistas, fazerem-lhes perguntas.... Chamei ao MAC os escuteiros, etc… Somos uma galeria viva, verdadeiramente um espaço cultural. A arte, para ser reconhecida como tal, precisa de ser vista, sentida e quanto mais cedo melhor, e por quanto maior numero de pessoas, melhor.
O Mac dá muita importância ao seu publico…
Sim. Não podemos esquecer o penhor do público, sempre interessado e interveniente. É ele que diariamente nos afirma que a arte não é apenas necessária mas profundamente indispensável. Com estes inestimáveis contributos (artistas, obras, publico divulgação jornalística) foi possível ao MAC conquistar um lugar de grande destaque no horizonte das artes plásticas, o que nos honra e nos une em laços estreitos aos artistas com quem trabalhamos, ao publico que os admira e apoia com regozijo e a todos os que de forma empenhada seguem o nosso trajecto.
Em Portugal não é costume premiarem-se artistas….
Os prémios foram criados numa noite de reflexão. Deixou-se de escrever sobre cultura em Portugal, o lugar foi praticamente todo tomado pelo desporto. Achei que tal era absolutamente necessário e justo. É um estímulo.
São atribuídos periodicamente?
Atribuímos anualmente em vários escalões.
Os próprios troféus são grandes obras de arte...
Sim. São concebidos por escultores do Movimento - já contamos com três grandes nomes : a escultora Maria Manuela Madureira - que conta com mais de sessenta anos de carreira, o Joalheiro e também escultor - Alberto Gordillo - que é considerado um dos dez maiores joalheiros do mundo - produziu o colar da Coroa da Monarquia Inglesa, fez vários trabalhos para o Franck Sinatra, e do qual temos uma exposição permanente de jóias no MAC, e este ultimo, em 2007, produzido por João Duarte, também um artista notável, Professor Catedrático de Belas Artes, um dos braços direitos deste Movimento.
O núcleo duro do MAC…
São vários que estão comigo quase desde o inicio, ou que demonstraram, assim que chegaram, uma disponibilidade generosa para connosco. A Pintora Luísa Nogueira, Maria João Franco, a açoriana Teresa Mendonça, entre outros, e claro O Mestre Hilário Teixeira Lopes, que é o nosso "bebé". Mas um "bebé" com grande peso - Prémio Mundial em Madrid, em 1969 entre 416 artistas de 32 países, prémio Sousa Cardoso em 1965 que era um dos mais importantes prémios nas Artes Plásticas em Portugal. A ele fazemos-lhe todas as vontades….
Pinta?
Nada! Não sei fazer um traço… fiz um quadro em toda a minha vida com a ajuda. Foi um sucesso… (risos)
Títulos e destaques
O amante do movimento das artes
O elitismo das galerias pode matar o futuro da arte. A pedagogia é essencial
Deixou-se de escrever sobre artes em geral em Portugal o lugar foi praticamente todo tomado pelo desporto. É pena.
A arte, para ser reconhecida como tal, precisa de ser vista, sentida, quanto mais cedo e maior numero de pessoas, melhor
Álvaro Lobato Faria é o director coordenador do MAC - Movimento de Arte Contemporânea. Um movimento que divulga e incentiva as obras de cerca de uma centena e meia de artistas portugueses, no país e no mundo lusófono.
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